quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Assistam ao clip da canção Flor D'Água, de Samir Trindade, interpretada por Clécia Queiroz. A canção venceu o prêmio de Melhor Arranjo (Dudu Reis, Clécia Queiroz, Sebastian Notini, Marcos Bezerra e Bira Monteiro). A interpretação e performance da cantora é ímpar e ela esbanja charme e extrema desenvoltura em cena. Vale a pena conferir!!!

https://www.youtube.com/watch?v=-W8ho-PUyEo

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


A Bahiagás comemora maioridade com show no Parque da Cidade
Espetáculo Elas cantam Riachão será apresentado no dia 23 de setembro às 11h


O Governo do Estado da Bahia por meio da Bahiagás apresenta o show “Elas cantam Riachão” com Claudete Macedo, Clécia Queiroz e Juliana Ribeiro. Três grandes vozes do samba da Bahia homenageiam o compositor e sambista Riachão durante evento de comemoração dos 18 anos da Bahiagás. A apresentação reúne os repertórios individuais das cantoras somados a vários clássicos do compositor, que no ano passado completou 90 anos de idade, sendo 70 deles dedicados ao samba. O espetáculo, que conta com a participação especial do homenageado, será no dia 23/09, no Anfiteatro Dorival Caymmi, no Parque da Cidade, às 11h, com entrada franca. Patrocínio exclusivo Bahiagás - Companhia de Gás da Bahia, com realização da Caderno 2 Produções Artísticas.
Serviço: Evento 18 Anos de Bahiagás – Muito Gás Para Fazer Sempre Mais
Show: Elas cantam Riachão com Claudete Macedo, Clécia Queiroz e Juliana Ribeiro
Participação Especial: Riachão
Dia: 23 de setembro
Horário: 11h
Local: Anfiteatro Dorival Caymmi – Parque da Cidade
Entrada Franca

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Elas Cantam Riachão

Mágico, envolvente e absolutamente emocionante!
A cantora e performer Clécia Queiroz fez tributo a Riachão ao lado de Claudete Macedo e Juliana Ribeiro, no domingo de carnaval, dia 19. O show teve início com a legendária Claudete Macedo, que trouxe para o palco clássicos de Riachão como Retratos da Bahia e Eu vou chegando da Bahia, além de fazer justa homenagem a Jorge Amado. Em seguida, a cantora chamou Clécia Queiroz que entrou em cena girando, dançando, fazendo reverencias para  Claudete e trazendo nas mãos uma moringa de barro cheia de água, que foi derramada no palco, num ritual de limpeza, harmonia e longevidade, uma alusão aos 90 anos de Riachão. Clécia levou a platéia literalmente ao delírio,  com uma performance ímpar, onde misturou teatralidade, sensualidade, brejeirice, dança e uma voz que parecia iluminada,  com bem definiu a diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias, Arany Santana, organizadora do evento. Depois de desfilar o repertório que incluía canções de Roque Ferreira, Walmir Lima, clássicos de Clara Nunes de sambas de roda de Domínio Público, Clécia se vestiu ( e literalmente se transformou) num malandro para cantar sucessos de Riachão como Chegou a Hora, Baleia, Bochecha Grande e Vá Morar com o Diabo. Divertida, brincalhona, trouxe o universo do homenageado para o palco com  muita personalidade e irreverência. Seu show incluiu a performance das dançarinas Laís Rocha e Vânia Oliveira, que deram um toque muito especial ao trabalho. Em seguida, a cantora convidou ao palco Juliana Ribeiro, que brindou o público com canções do seu show Amarelo e depois cantou Chô Chuá junto com Clécia e Claudete que trouxeram Riachão à cena, absolutamente ovacionado. Esse senhor de 90 anos, brincou, cantou e divertiu-se como somente uma pessoa plena de samba pode fazer. Momento histórico, singular e emocionante  na Bahia.

sábado, 2 de julho de 2011

Qualquer Dia - Experiência

Alcir Santos


Somos espécimes raros. Conseguimos chegar sãos e salvos, vivos e saudáveis, aos tempos atuais sem que o Estado cuidasse, como agora, de intervir a todo o momento na vida e nos direitos elementares dos cidadãos. Ontem proibiram os jegues da Lavagem do Bonfim, tradição que remonta aos primórdios da festa e causa de saborosas expressões do baianês como “Mais enfeitado(a) que jegue na Lavagem do Bonfim.” Hoje proíbem a tradicionalíssima guerra de espadas de Cruz das Almas.  Para amanhã a ameaça é aos cavalos dos “Encourados de Pedrão”. Ficarão proibidos de participar do desfile do 2 de Julho.

            A participação dos jegues na Lavagem, todos enfeitados e cheios de adereços, é costume que data do Século XVIII já que a festa começou em 1754. Pois bem em 2011 os jegues foram cassados, impedidos de desfilar. Dentre outros argumentos, sustentaram que “o jegue é um ser senciente” e como tal “tem capacidade de sentir dor, medo, alegria....” Perfeito. Por essas e outras é que certo Ministro de Estado asseverou que “cachorro também é gente.”

Fico a pensar como seria escrita a história do cristianismo se vivendo nos tempos bíblicos essas autoridades, ciosas dos direitos dos asnos, impedissem José de conduzir Maria e o Menino, montados num jumento, na fuga para o Egito. Note-se que a ordem de fuga veio dos céus: “...eis-que apareceu um anjo do Senhor em sonhos a José e lhe disse: Levanta-te, e toma o menino, e sua mãe, e foge para o Egito, e fica-te lá até que eu te avise, porque Herodes tem de buscar o menino para o matar.”(Mateus 2.13). E vejam que confusão dos diabos! O Filho do Homem, daquele que criou todas as coisas existentes na terra, animadas ou inanimadas, seria apanhado e morto pelos esbirros de Herodes simplesmente porque, caminhando, não conseguiriam sair dos limites da Judéia. E tudo isto em defesa da integridade dos jumentos que sequer teriam aquela cruz no lombo que, como reza a tradição, é a marca deixada pelo xixi feito pelo Menino Jesus.

Mas, nem tudo está perdido. Irreverência é coisa nossa. Galhofa desmoraliza. Inúmeros poderosos, ao longo do tempo, acabaram virando motivo de riso e deboche exatamente em razão de decisões e ordens que tais. Na Lavagem de 2011 não foi diferente. Pouco se falou dos repressores. A sensação da festa, o assunto mais comentado com inúmeras matérias nos meios de comunicação foi “Pagode”. O jegue enfeitado que aparecia na televisão tomando água mineral, comendo cenoura e em cima de uma carroça puxada pelo seu dono. Mais ainda, em torno dele um corpo jurídico pronto para intervir e contornar as situações com os fiscais que, registre-se, estavam se lixando para a tal ordem judicial. Resultado, na Lavagem do Bonfim de 2011 teve jegue enfeitado.  Tá documentado. Até na Internet.

A Guerra de Espadas ora proibida é a marca registrada do São João de Cruz das Almas. Durante grande parte do ano pessoas trabalham duro preparando as espadas (pedaços de bambu cheios de pólvora). Com a venda desse produto, que só tem mercado uma vez no ano, garantem o sustento da família por vários meses. Às vésperas dos festejos proibiram sumariamente as espadas. Golpe duro na tradição e nas finanças da cidade. Autoridades municipais intervieram, recorreram, ponderaram que fariam a guerra de espadas em lugares afastados, protegidos. Nada. Ordem judicial é para ser cumprida e ai de quem ousar o contrário. Sem problemas. Cruz das Almas festejou como manda a tradição com licor, canjica, forró e......Guerra de Espadas. Uma faixa, espécie de grito silencioso, ornamentou a cidade: “Guerra de Espada é só no São João. Crack e Cocaína o ano inteiro.” Será que os poderosos que querem acabar com as espadas de São João ouvirão o grito de desespero contra o crack e a cocaína? O tempo dirá......
 
E chegamos ao último ato. As festividades do 2 de Julho  começam no dia 30 de junho quando o fogo simbólico sai de Cachoeira e passa por diversas cidades do Recôncavo.  O desfile cívico -- e festa popular -- que se realiza em Salvador há mais de 180 anos é tradicionalmente puxado pelos Encourados de Pedrão. Esses cavaleiros se deslocam lá do seu município e aqui, vestidos a caráter, cheios de orgulho e garbo, abrem o desfile. Originalmente chamado de Voluntários da Pátria o grupo de cavaleiros comandados pelo Frei José Brayner foi incorporado às tropas do General Labatut a partir de 05.12.1822, conforme ofício do Conselho Imperial. Sua participação no desfile é parte da nossa história. Nas lutas pela Independência eles foram a cavalaria que o Brasil teve. Impedir os representantes dos Encourados de desfilar é descaracterizar a festa. Será que mais adiante vai proibir a cabocla?

Pois é. Segundo se propala, as autoridades já se movimentam no sentido de impedi-los de desfilar como forma de preservar a integridade dos cavalos. Não adiantou o Prefeito explicar que os animais são transportados até Salvador em caminhões e na prática só andam os poucos quilômetros do trajeto oficial. Nada disso. Os animais não podem ser submetidos a maus tratos e estresse. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Lendo e ouvindo essas coisas, bateu a fraqueza e o medo. E se nos proibirem de comer, o que é que vai ser de nós? Afinal de contas todos os alimentos, inclusive os de origem vegetal, vêm de seres vivos. E se resolverem preservar a integridade dos bovinos, tubérculos, folhas, aves, grãos e todos os outros componentes da nossa matriz alimentar? Assustado com a perspectiva só me resta recorrer às sagradas escrituras e, com Mateus 26.41, genuflexo, repetir: Vigiai, e orai para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”

domingo, 19 de junho de 2011

Projeto Cidade do Trabalho - Memórias da Vila Operária da Boa Viagem



O pessoal da Vila Operária da Boa Viagem está com um projeto muito bom de valorização da vila. Confiram abaixo:
 
Projeto Cidade do Trabalho - Memórias da Vila Operária da Boa Viagem, vai resgatar a história dos operários e operárias da Vila Operária da Companhia Empório Industrial do Norte - CEIN, fundada por Luíz Tarquínio,em maio de 1892, considerada a mais moderna do mundo na segunda metade do século XIX e que virou atração turística de Salvador, tendo até livro de visitas.
Hoje abandonada à própria sorte, a Vila Operária está quase que totalmente descaracterizada fisicamente, como quase toda a Península de Itapagipe,mas ainda resiste como patrimônio imaterial e guarda histórias originalíssimas de trabalhadores e trabalhadoras da indústria têxtil que herdaram o legado social de Luíz Tarquínio, o primeiro prefeito negro do Brasil e pioneiro dos direitos trabalhistas no país, o que por si só, deveria ter garantido a integridade física e patrimonial no passado e atualmente a recuperação da sua história única no mundo, com a devida atenção por parte do poder público, no momento em que a Bahiatursa, orgão oficial de turismo do estado, gasta milhões de dólares Brasil afora, para atrair os turistas negros afro-americanos, os africanos e europeus, que mais que os brasileiros, valorizam a cultura afro-brasileira e que querem vivenciar essa experiência.
Então, queremos que a Vila seja reconhecida como primeiro destino/produto do turismo étnico-afro do Brasil e que isso se transforme numa ação permanente de valorização da nossa história local, transformando a região da Boa Viagem, num sui generis destino/produto turístico de alto valor agregado, e que se tranforme num lugar ainda melhor e mais aconchegante para nós, que vivemos aqui e num local bem acolhedor para os turistas da Bahia e do exterior, trazendo valorização sócio-econômica para todo o bairro e cercanias, além de divulgar o nome da Bahia e do Brasil mundo afora. 
O projeto propõe a criação do Sítio Histórico Cidade do Trabalho, que, em linha reta, da Igreja de Nossa Senhora do Humaitá até a Feira de São Joaquim, tem muitos prédios históricos, alguns tombados pelo IPHAN e outros de valor histórico-social inegáveis, além de festas tradicionais da cidade, como a Procissão de Bom Jesus dos Navegantes e memoriais religiosos, como o Santuário da Beata Irmã Dulce e da Mártir Beata Irmã Lindalva, coisa única no mundo católico, que fazem parte da identidade sócio-cultural da Península de Itapagipe e da própria cidade  
É possível, que não exista outro bairro no Brasil, com tanta diversidade cultural e ainda banhado pela Baía de Todos os Santos, que nos proporciona uma invejável característica de ser itapagipano. Nós que moramos aqui, sabemos o que é isso.
É muita benção e muita riqueza!!!   
Quer saber um pouco mais sobre o projeto e dar a sua sugestão, crítica ou elogio?
Então, acesse o perfil Cidade do Trabalho no Orkut, ou Cidade do Trabalho Instituto, no Facebook e saiba mais sobre o projeto que pretende contar a história dos moradores do bairro da Boa Viagem e da Península de Itapagipe. Isso é um direito de cidadania e vamos exigi-lo.
Você vai se surpreender e se emocionar com a as fotos que falam por si mesmas.
Em 25 de julho próximo, seguinte ao aniversário de nascimento de Luíz Tarquínio, vamos apresentar todo o projeto para discussão e opinião da Comunidade e das autoridades competentes, no auditório do Colégio Luíz Tarquínio, às 19 horas.
Estamos enviando ofício para as autoridades públicas e instituições, esperando as presenças do Prefeito da Cidade, do Governador do Estado da Bahia, da Presidenta Dilma Roussef, do Itamaraty, do IPHAN, do IPAC, da SEPLAN, do Insttituto Geográfico e Histórico da Bahia, da UFBA, da UNEB, da Fundação Pedro Calmon, da Secretaria da Educação,da Fundação Palmares, dos Movimentos Negros, das Comissões de Direitos Humanos e da Igualdade Racial, da Assembléia Legislativa, da Bahia, de Representantes da Câmara de Veradores de Salvador, da Fundação Gregório de Mattos, do CREA, SENAI, SESI, SINDCOMÈRCIO, da FIEB, do Instituto dos Arquitetos da Bahia, da Bahiatursa, da Salvatur, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Ministério Público Federal, da SEPPIR, do CEAO, do SEBRAE, do Ministério do Trabalho, do Ministério do Turismo, Ongs, Associações de bairro, religiosas e empresariais e demais orgãos que tem a ver com as ações culturais que compõem o projeto na sua transversalidade, além de representantes de países amigos.
O Projeto Cidade do Trabalho - Memórias da Vila Operária da Boa Viagem, não é meramente um projeto cultural, é muito mais uma ação de valorização da cultura brasileira, uma ação de reparação, em primeiro lugar, à comunidade da Vila Operária, que sofreu duas violentas e determinantes amputações por parte da Souza Cruz e do Governo do Estado, quando ainda se encontrava em seu formato original, ou quase, com a destruição de toda a 1ª Sessão e metade da 2ª, além de parte da 4ª, de toda a 5ª e parte da 6ª Sessão, além de toda a praça central, com os dois coretos, só restando a estátua de Luíz Tarquínio, quase também destruída, isso, durante a ditadura militar, o que explica em parte, a inércia da comunidade naqueles tempos tenebrosos.
Em segundo lugar, deve-se reparar a figura de Luíz Tarquínio, um dos maiores empresários brasileiros de todos os tempos, que se fosse do sul do país, provavelmente, teria sido alvo de estudos e de honrarias, como o foi o Barão de Mauá, mas este, foi diferente de Tarquínio em três coisas essenciais: era branco, numa sociedade racista, no pós-abolição, queria usar o dinheiro público para suas obras e morreu pobre e esquecido. Já o fundador da CEIN, filho de uma negra nascida alforriada, nasceu em extrema pobreza, sem conhecer e ter o apoio do pai,  sem usar o dinheiro público, sequer para sustentar a escola da Vila, entretanto, morreu milionário.
Caso de sucesso baiano e brasileiro.
Vai querer mais motivos para justificar este projeto?
Em terceiro lugar, em reparação à Comunidade Negra da Bahia e do Brasil, que à exceção de Zumbi dos Palmares e de outros personagens igualmente significativos da história africana no Brasil, como o saudoso Professor Milton Santos e o recentemente falecido Abdias do Nascimento, para citar alguns, não se vê representada no imaginário coletivo da nossa sociedade de forma positiva, como se não tivéssemos contribuído com muito sangue, suor e lágrimas, e para além da dor e do sofrimento, sustentado o Brasil, com a força bruta, mas também com muita intelectualidade, inteligência e sabedoria, desde que o primeiro escravo africano chegou aqui até os dias de hoje, em todas as áreas do saber humano. 
Por último, porque não podemos perder a oportunidade de agregar valor à nossa cultura como um todo, atraindo visitantes, fazendo-nos reconhecer como pólo de cultura, de criatividade e ineditismo e ganhando dividendos sócio-econômicos, para além da alta estação turística.
Isso é estratégia, política e cultural.
Antes do dia do lançamento oficial do projeto, vamos conversar para determinar como será essa festa, no mesmo colégio Luíz Tarquínio, em data a ser marcada logo após o São João.
Em tempo: desde 2009, protocolamos pedido de salvaguarda da Vila Operária ao IPAC, que sem nos avisar, envio à SECULT, que envio por sua vez à SEPLAN, na qual estamos pedindo detalhes do encaminhamento do processo.
Estamos, também, pedindo ao Itamaraty, que protocole junto à ONU/UNESCO, que seja destinado o dia 24 de maio,à comemoração do Dia Mundial da Responsabilidade Social, em homenagem ao dia do nascimento de Luíz Tarquínio, uma vez, que não conseguimos identificar com precisão a data certa de inauguração da Vila Operária.
Temos o apoio da TVE, do IRDEB, da DIMAS, orgãos da SECULT e do SEBRAE Bahia, que vão nos ajudar com a filmagem dos depoimentos dos mais velhos da Vila, na cobertura do evento e na elaboração do projeto para enquadrar nas leis de incentivo fiscal do Ministério da Cultura e do Governo do Estado.      
Fico no aguardo da sua resposta. 
Abraço forte a todos.

-- 
 Vila Operária da Boa Viagem
 Marco Zero da Responsabilidade Social no Mundo
 Projeto Sítio Histórico Cidade do Trabalho
 Avenida Luíz Tarquínio, 83, casa 30, Vila Operária, Boa Viagem.
 Salvador, Bahia, Brasil
 Cep. 40414-120 - cidadedotrabalho@gmail.com
 Tels: 55 71 8779-8244/8741-4468           
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  Facebook: Cidade do Trabalho Instituto

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Salvador perde pontos em Turismo (matéria publicada na Carta Capital)


Acorda, Salvador!



Com um prefeito mal avaliado e cheia de problemas, a capital baiana perde para Fortaleza o posto de cidade mais visitada por turistas. Por Cynara Menezes. Foto: André Fernandes
Primeira capital brasileira, porta de entrada do Nordeste, aos 462 anos Salvador está ficando para trás. Literalmente. Com um dos prefeitos mais mal avaliados do País, João Henrique Carneiro, do PP, a cidade da Bahia acaba de ser ultrapassada por Fortaleza, no Ceará, que se tornou a mais visitada pelos turistas nacionais. A informação integra uma pesquisa mundial publicada em março pelo site Hoteis.com, a partir do número de reservas em hotéis e pousadas. Ao que tudo indica, as praias e o centro histórico foram trocados não só por outros destinos na região como por localidades mais aprazíveis no interior do próprio estado.
Além da segurança e da limpeza urbana, preocupações constantes em Salvador, três temas fazem os tranquilos baianos esquentarem a cabeça ultimamente: a sujeira e desorganização da orla marítima, o abandono do centro histórico e o trânsito. Como se fosse pouco, o prefeito teve as contas de 2009 rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Município, com quem trava uma disputa judicial. No início do mês, o prefeito conseguiu uma liminar para anular o parecer do TCM, que o acusa de uma série de irregularidades lesivas aos cofres públicos. Se as contas forem mesmo recusadas, ele se tornará inelegível por oito anos.
Não é, porém, o único imbróglio jurídico a envolver João Henrique. Há exatamente um ano, por determinação judicial, todas as barracas de praia da orla de Salvador foram derrubadas e nada foi posto no lugar. O resultado é que os antigos barraqueiros passaram a ocupar a beira-mar com cadeiras e mesas plásticas em frangalhos, que devem ser colocadas e retiradas diariamente, por ordem da prefeitura. Não existem mais duchas e banheiros públicos nas praias.
“Virou uma favela”, reconhece o proprietário de uma das mais antigas barracas da orla, na Praia de Piatã, Nadson Araújo. Há 18 anos, Araújo possuía a maior barraca do pedaço, a Malibu, agora reduzida a dois isopores grandes com cerveja, refrigerante e água de coco. “É para minha família não morrer de fome que me submeto a essa humilhação de ficar tirando e botando cadeira e mesa todo dia”, diz o barraqueiro. “Pagamos financiamento por meio de um banco público, o Desenbanco, para levantar as barracas, em 1985. Não entendo como só depois descobriram que a areia é tombada”, reclama José de Lima Praxedes, outro proprietário.
A última revitalização da orla marítima de Salvador foi feita em 1985, durante o governo João Durval Carneiro, pai do atual prefeito, João Henrique, que em 2007 trocou o PDT pelo PMDB e depois pelo PP. Em 2006, o prefeito anunciou sua intenção de intervir mais uma vez na orla, modernizando as barracas. O novo projeto para a orla foi apresentado à cidade em janeiro do ano passado, mas, antes que pudesse ser iniciado, em abril, uma ação do Ministério Público Federal determinou que todas as barracas teriam de ser retiradas da areia. A prefeitura exime-se da responsabilidade por, após um ano, a situação continuar a mesma.
“Isso depende da Justiça, a prefeitura não pode fazer nada”, afirma o secretário de Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente e Habitação de Salvador, Paulo Damasceno. “A única coisa que podemos fazer é fiscalizar para que os barraqueiros tirem as mesas e cadeiras todos os dias.” Na cidade, muita gente concorda que as barracas antigas não tinham mais condições de funcionamento, sujas e deterioradas pelo tempo. Mas, sem elas, ficou pior e, mais grave, não existe solução à vista.
Outro cartão-postal de Salvador, o centro histórico também virou um espanta-turistas. Com algumas ruas do entorno do Pelourinho tomadas por usuários de crack, a região é evitada até mesmo por moradores da capital. Os lojistas reclamam de uma queda de mais de 70% do movimento nos últimos três anos. “De dia ainda vêm algumas pessoas. De noite, todo mundo some”, diz o americano Pardal Roberts, há seis anos proprietário- de uma loja de música no Pelourinho. “Se tiver show, os turistas e o pessoal daqui vão à praça onde estiver acontecendo e depois vão embora. Nos próprios hotéis eles já ouvem o conselho de evitar o Pelourinho, dizem que é perigoso.”
Integrantes da prefeitura, do governo e representantes dos lojistas dizem que o Pelourinho “pegou fama” de local inseguro, onde proliferariam gatunos à espera de uma distração para roubar objetos como câmeras, correntes e relógios. O coronel José Nascimento, responsável pelo policiamento do centro histórico, é elogiado por não dar expediente no gabinete, e, sim, zelar pessoalmente pela segurança dos turistas. “A senhora está há duas horas aqui. Viu alguém ser assaltado?”, pergunta o coronel diante da Igreja de São Francisco, no Terreiro de Jesus. Eram 5 da tarde. Quando a noite cai no Pelourinho, todo mundo sabe, começa o assédio de pedintes aos turistas e as aparições das figuras esquálidas dos viciados em crack, dispostos a tudo.
Segundo o presidente da Associação dos Comerciantes do Centro Histórico (Acopelô), Lenner Cunha, mais de 200 lojas fecharam na região nos últimos sete anos. Cunha se mostra saudoso da época do falecido governador Antonio Carlos Magalhães, quando havia o projeto “Pelourinho Dia e Noite” e o centro histórico vivia seu auge. “Hoje, o governo não tem diagnóstico para a área e a prefeitura vive uma inércia reconhecida por todos”, critica o comerciante. “A Secretaria Estadual de Cultura dá informações imprecisas à Unesco, de que ACM ‘botou todo mundo pra fora’. Mesmo que ele tenha errado, tem de se ver as benesses que houve desde a revitalização.”
O Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), por sua vez, acusa os comerciantes da área de não pagarem pela ocupação dos imóveis desde o início, totalizando uma dívida de quase 8 milhões de reais para com o estado. Nessa queda de braço, a voz mais sensata parece ser a da coordenadora do setor cultural da Unesco no Brasil, Jurema Machado, que atua em conjunto ao governo na busca de uma solução para o centro antigo de Salvador, que compreende não só o Pelourinho. “Não vou demonizar o que foi feito no passado, porque houve o salvamento de uma situação física grave. Mas houve -uma -estratégia de uso incompleta. Não tem gente no Pelourinho porque ele é artificial.”
Jurema Machado compara a revitalização do centro histórico baiano com outras experiências mais bem-sucedidas em capitais da Europa, em que não se visou apenas o turismo, mas o caráter de normalidade das regiões, com moradores inclusive. No Pelourinho, só existe comércio, e mesmo os soteropolitanos não o frequentam no dia a dia, o que seria o ideal. “O morador de Salvador não vai ao Pelourinho para nada. É preciso haver uma estratégia de uso que envolva os setores público e privado. O governo é proprietário de centenas de imóveis na região, alugados exclusivamente para uso comercial e de serviços, o que não confere vitalidade à região”, diz a representante da Unesco. Os comerciantes, a propósito, são contrários à ideia de atrair moradores para o centro antigo.
Você que levou poucos minutos de leitura para chegar da orla ao Pelourinho nesta reportagem, na vida real gastaria ao menos duas horas no trânsito caótico de Salvador para fazer idêntico percurso. Com o tempo recorde de 12 anos sem concluir, o metrô da capital estimula as piadas sobre a célebre lentidão baiana. Atualmente sob fiscalização do Exército, a prefeitura promete concluir o primeiro trecho do metrô, de apenas 7 quilômetros, no fim deste ano. O segundo, garante a prefeitura, será entregue aos soteropolitanos até o fim do mandato de João Henrique, em 2012. No total, o metrô de Salvador terá parcos 12 quilômetros, absolutamente insuficientes, sob qualquer perspectiva, para desafogar o tráfego na capital.
Especialistas questionam ainda o traçado do metrô, que ligará o subúrbio ao terminal da Lapa, trecho onde não há grande fluxo de automóveis. “O metrô vai ligar o nada a lugar nenhum. Não retira carro da rua porque passa por locais onde não tem carro”, desdenha a socióloga Maria Brandão, secretária de Planejamento na administração Lídice da Matta (1992-1996), hoje senadora, de quem também é crítica. “Ninguém até hoje fez uma análise de fluxo em Salvador, o que se tem é uma visão tópica. Resolver o tráfego não é só uma questão de mecânica de cir-culação, de se planejar em cima da planta”, defende a socióloga. “É preciso observar também as questões socioculturais.”
O secretário de Transportes de Salvador, José Mattos, reconhece que o metrô servirá apenas para dar uma “amenizada” no trânsito, mas promete que, até a Copa de 2014, outras soluções serão implementadas. “Em 60 dias apresentaremos projetos para receber recursos do PAC da Mobilidade nas Grandes Cidades”. As ideias vão desde a ampliação de vias à instalação de semáforos “inteligentes” em pontos críticos. A prefeitura decidirá ainda se vai optar pelo modelo de transporte em massa Bus Rapid Transit (BRT) – linhas exclusivas para ônibus – ou Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Se a obra do metrô for o modelo, Salvador passará mais três Copas do Mundo na lanterninha.

Ecad repassou quase R$ 130 mil para falsário por autoria de trilhas sonoras

Sabemos de muito tempo que a ECAD não representa os direitos dos compositores/autores. Não podemos sustentar mais isso!!!!

25/04/2011 |

André Miranda
O Globo

Rio - Ninguém no Brasil ouviu falar em Milton Coitinho dos Santos, mas, de acordo com o sistema de músicas do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), ele deveria ser um dos mais prolíferos e conhecidos autores de trilhas sonoras para cinema de que se tem notícia. Suas composições viriam de clássicos dos anos 1960 até comédias recentes deste século. Ele teria trabalhado com Glauber Rocha, José Mojica Marins e Anselmo Duarte. E, por essas supostas trilhas, foi recompensado. Em 2009, Coitinho recebeu R$ 33.364,87 de direitos autorais do Ecad. Em 2010, foram R$ 94.453,42. No total, o escritório pagou ao "compositor" R$ 127,8 mil pelas exibições de 24 filmes nos últimos dois anos. Só que Coitinho, na realidade, foi o autor de outro tipo de obra: ele representa a maior fraude já descoberta dentro do sistema de distribuição de direitos autorais do Ecad.

O esquema dos pagamentos irregulares começou a vir à tona em novembro do ano passado, de acordo com uma série de documentos e trocas de e-mails aos quais O GLOBO teve acesso. Na ocasião, a União Brasileira dos Compositores (UBC), uma das nove associações que compõem o Ecad, foi questionada sobre os direitos de Sérgio Ricardo em relação à trilha de "Deus e o diabo na Terra do Sol", filme de 1964, de Glauber Rocha. As composições da obra são de Ricardo e do próprio Glauber, mas a trilha foi registrada como de autoria de Coitinho na UBC em 28 de janeiro de 2009.

- Isso é um roubo, é um crime. Imagino que algum funcionário oportunista pegue uma obra sem autor ou com o nome trocado e a registre em seu próprio nome - diz Sérgio Ricardo. - É uma mostra de como o direito autoral no Brasil é desorganizado. As informações são truncadas, nunca se sabe exatamente o que está sendo pago.

Desde 2009, então, trilhas são registradas em nome de Coitinho. Há obras de todos os gêneros e datas. Estiveram associadas a ele, por exemplo, músicas de "O pagador de promessas" (1962), de Anselmo Duarte; "Macunaíma" (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; "Finis hominis" (1971), de José Mojica Marins; "Feliz ano velho" (1987), de Roberto Gervitz; "Pequeno dicionário amoroso" (1997), de Sandra Werneck; e "O homem que desafiou o diabo" (2007), de Moacyr Góes.

Em todos, ele aparecia no sistema do Ecad tanto como compositor das obras como seu intérprete. Há casos, como no de "Romance" (2008), longa-metragem de Guel Arraes com trilha de Caetano Veloso, em que ele foi registrado como único autor das músicas. Em outros, os autores verdadeiros eram cadastrados com uma participação menor na trilha, para não levantar suspeitas. As músicas de "Casa da Mãe Joana", de Hugo Carvana, foram feitas por Guto Graça Mello. Mas, na ficha técnica do Ecad, Guto teria tido participação em apenas 1.350 segundos da trilha, enquanto 3.755 segundos seriam de Coitinho.

- Isso me parece um grande golpe de uma equipe. Eu acho que apareceu apenas a ponta de um iceberg. É muito dinheiro envolvido na distribuição de direito autoral no Brasil - afirma Guto.

Os valores pagos por cada filme variam de acordo com sua execução no ano. O rendimento em direito autoral das músicas para "Didi quer ser criança" (2004), de Alexandre Boury e Reynaldo Boury, por exemplo, foi de R$ 33 mil em 2010. Porém, 70% da trilha, de autoria de Mú Carvalho, foram inscritos como sendo de Coitinho.

- Até agora não me pagaram o que é devido. É engraçado como é mais fácil alguém inventar que fez uma música e receber o dinheiro da associação do que o verdadeiro compositor ter o que lhe é de direito - afirma Carvalho. - Sendo elegante, eu posso dizer que o sistema do Ecad é, no mínimo, falho.

O Ecad é o órgão responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais no Brasil. A arrecadação é feita em rádios, emissoras de TV, casas de festas, blocos de carnaval, restaurantes, consultórios ou qualquer estabelecimento que toque música publicamente. Depois, o valor é distribuído para as nove associações que compõem sua estrutura, cabendo a elas o repasse para autores, herdeiros, editoras e intérpretes. Atualmente, o banco de dados do escritório conta com 2,3 milhões de obras musicais, 71 mil obras audiovisuais e 342 mil titulares de música.

Parte desse banco de dados está disponível para consulta na internet, num sistema chamado Ecadnet. Em entrevista ao GLOBO no início de março, Glória Braga, superintendente executiva do Ecad, explicou que o Ecadnet é um catálogo mais refinado das obras.

- Ali estão músicas nacionais codificadas para um projeto internacional. Elas têm códigos que sofrem validações variadas, refinamentos de tecnologia. São músicas cujas informações podem ser utilizadas em qualquer lugar do mundo com aqueles códigos. Aquilo é menor do que o banco de dados do Ecad. Outras músicas ficam no nosso banco de dados aguardando validação para que sejam postadas no banco de dados mundial. Aquele é um banco de dados refinado, depurado, sem maiores problemas - disse Glória.

Apesar disso, todas as músicas de Coitinho estavam, até domingo, no Ecadnet.
O Ecad cortou os repasses para Coitinho em janeiro e agora estuda uma maneira de processá-lo. O problema é encontrar o falsário - se é que ele existe. De acordo com Marisa Gandelman, diretora executiva da UBC, Coitinho registrou as trilhas sonoras no escritório da associação em Minas Gerais. Hoje, porém, não haveria informações sobre seu paradeiro. Em trocas de e-mails entre representantes de associações, falou-se que ele poderia ter ido para o exterior.

- Ele descobriu uma brecha e agiu de má fé. Qualquer sistema no mundo tem brecha. A própria ideia da autoria de obra artística depende da presunção da verdade do autor, o que já deixa a maior brecha de todas - explica Marisa. - O direito de autor no Brasil é automático, não carece de registro. No caso dos filmes, normalmente a ficha técnica é levada ao sistema com base num documento preparado pelo produtor. Quando a ficha não é catalogada, o dinheiro fica retido até aparecer um titular. O Coitinho se inscreveu como autor de filmes cujas fichas não foram providenciadas. Como não havia outra ficha, o problema não foi logo percebido. Mas só quem faz parte do sistema tem acesso a essas informações.

Outra particularidade no registo autoral brasileiro é que cada uma das dez associações do Ecad tem modelos próprios para registro e não se exige do autor um fonograma da obra.
- Como não existe um método de depósito de fonogramas, a gente não sabe se a obra existe mesmo ou se foi feito um cadastro de má fé. E as associações não checam os cadastros - afirma Juliano Polimeno, diretor executivo da Phonobase, agência de música de São Paulo.

- Na Espanha, a associação Sgae determina que o cadastro de obra seja feito junto com o áudio. Além disso, fora do Brasil existe uma padronização no cadastro. Aqui, o Ecad não tem um padrão - afirma o advogado Daniel Campello Queiroz.

A revelação do esquema de Coitinho coincide com o debate sobre a reforma da Lei do Direito Autoral. Hoje, o projeto que foi preparado pela gestão anterior do Ministério da Cultura (MinC) volta para consulta pública, a fim de receber sugestões até 30 de maio. Diferentemente do que ocorreu em julho do ano passado, quando o MinC fez a primeira consulta, porém, os internautas não terão acesso às contribuições de terceiros.

Um dos pontos mais polêmicos da reforma está, justamente, na necessidade ou não de se criar um ente governamental fiscalizador do Ecad - atualmente, o escritório é autônomo.